quarta-feira, 10 de junho de 2020

Eu como um figo
e sigo
é assim que prossigo
metade das coisas eu não ligo
porque sou o meu melhor amigo
e a ti te digo:
prossegue
alegre
honesto
modesto
ao tom do teu gesto
sem um contesto
pois sabes que és
e quando isso se sabe
a contestação não cabe
porque tal é a verdade.
Não me interpretes mal.
Não estou aqui para ofender tal ou tal.
Mas o meu melhor amigo nem sempre é real
e por isso preciso
de um modelo conciso
alguém com juízo
que me dê um aviso
eu sempre reviso
mas nem sempre a vista é clara
e ter mais que dois olhos é coisa rara
e é por isso que às vezes a ferida não sara.
Então eu prossigo.
Metade das coisas eu não ligo
porque sou o meu melhor amigo,
mesmo que às vezes se meta comigo...
Mas eu ganho forças e olho para ele
tento entender o que me quer dizer.
Diz-me para eu apenas ser
e eu fico sem entender...
Eu já sou aquele ser!!
Então ele mostra-me o que é ser como deve de ser.
E eu ponho-me a ver.
Fico a estremecer.
Tenho tanto para aprender!
E ele diz-me assim:
"Come o teu figo, amigo,
eu ando sempre contigo, unido,
confia na vida, escuta a harmonia
que lida e convida a teres uma vida mais querida.
Limpa a ferida
que já está de partida
e sente!
Sente que eu já cresci dentro de ti
que eu estou aqui por ti
que eu vim de dentro de ti.
Sente o crescimento
está preso em cimento
porque é verdadeiro!
Queres modelo mais certeiro?"
E naquele diálogo todo eu entendi
que as coisas que eu não vi
era eu com medo de mim.
Abri-me assim
entendendo o todo e o nada.
Sigo caminho
com destino a uma morada
sossegada, calada, presente e vivente.
Digo-te a ti que aquilo que eu não vi
surgiu por ti.
Destapou-se a miragem.
Agora consigo ver a real imagem
e assim entendo que toda esta viagem
foi apenas uma curta-metragem.

(19/Mar/2020)

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